Por Eric Guillotin e Muly Levy da Imperva
Os Web Application Firewalls (WAFs) se tornaram essenciais na proteção de aplicações web e APIs. Eles funcionam como filtros especializados, bloqueando tráfego malicioso antes que chegue aos seus sistemas. Mas instalar um WAF não é garantia de proteção — o verdadeiro desafio é saber se ele realmente funciona quando mais importa. Nem todos os WAFs são iguais, e testes mal planejados ou avaliações tendenciosas podem deixar sua empresa vulnerável a ataques sofisticados.
Neste artigo, explicamos quatro abordagens principais para avaliar WAFs — relatórios de analistas de mercado, benchmarks de fabricantes, auditorias técnicas independentes e autoavaliações — e propomos uma estrutura prática para combiná-las e tomar decisões mais seguras e bem-informadas.
O desafio de testar WAFs no mundo real
Avaliar um WAF vai muito além de rodar testes sintéticos em laboratório. Muitas avaliações se concentram em vulnerabilidades teóricas que não condizem com a realidade do seu ambiente. Um exemplo clássico: um WAF pode bloquear cargas maliciosas com SQLi codificadas em Base64 em um teste, mas se sua aplicação nem processa esse tipo de codificação, o teste pode gerar falsos positivos e até bloquear tráfego legítimo.
Outro problema comum é dar foco exagerado a ataques como XSS e negligenciar ameaças mais críticas, como SSRF ou RCE. Cibercriminosos modernos exploram exatamente essas lacunas, usando técnicas avançadas, como SQLi às cegas com callbacks via DNS ou injeções XXE, que passam despercebidas por mecanismos de detecção tradicionais. Avaliações eficazes precisam ir além das métricas básicas e simular condições realistas e em constante evolução.
Relatórios de analistas: visão estratégica, mas com limitações
Relatórios de empresas como Forrester ou IDC são recursos valiosos para entender o mercado de WAFs. Mais do que apenas oferecer uma visão geral, esses documentos moldam a reputação dos fornecedores e ajudam a identificar aqueles mais alinhados com tendências como arquiteturas cloud-native e segurança para APIs.
Em um mercado dinâmico e complexo, esses relatórios economizam tempo e oferecem uma base sólida, com perspectivas amplas e objetivas. No entanto, vale lembrar que, apesar do valor estratégico, eles geralmente não se aprofundam em detalhes técnicos. Por isso, use-os como ponto de partida — mas complemente com testes técnicos práticos e específicos do seu ambiente.
Benchmarks de fornecedores: úteis, mas com olhar crítico
Benchmarks fornecidos por fabricantes podem parecer imparciais — às vezes até usando iniciativas open source para passar essa imagem —, mas nem sempre são confiáveis. Um exemplo recente focou demais em ataques de XSS e Path Traversal, ignorando ameaças mais sérias como RCE e SSRF. Além disso, alguns testes usaram codificações de URL não padronizadas (como %00), que servidores web costumam rejeitar, distorcendo os resultados.
Outro problema comum é que alguns WAFs são avaliados no modo de alerta, em vez de bloqueio, o que não reflete sua eficácia real em produção. Sem falar na falta de transparência sobre as metodologias de teste, o que dificulta a verificação da validade dos resultados.
Essas limitações mostram a importância de não confiar apenas nos benchmarks dos fabricantes. Use-os como complemento, mas jamais como única base de decisão.
Auditorias técnicas independentes: rigor e transparência
Avaliações realizadas por entidades independentes, como a SecureIQLab, utilizam metodologias padronizadas e transparentes para testar WAFs diante de uma ampla variedade de ameaças reais — incluindo técnicas de evasão avançadas. A avaliação mais recente da empresa, respaldada por entidades como a Anti-Malware Testing Standards Organization (AMTSO), revelou diferenças significativas em relação aos testes conduzidos pelos próprios fornecedores.
No estudo, as aplicações protegidas foram submetidas a mais de mil ataques distintos, baseados em frameworks como OWASP Top 10 e MITRE ATT&CK. Além da eficácia na segurança, também foram avaliadas funcionalidades operacionais como implantação, gerenciamento, escalabilidade, gestão de identidade e acesso, visibilidade, análise e logging.
Esses testes mostram o valor de auditorias imparciais e padronizadas para revelar não só o desempenho técnico dos WAFs, mas também sua eficiência operacional — algo que muitas vezes passa despercebido em avaliações feitas por fabricantes.
Autoavaliação: testes sob medida para seu cenário
A autoavaliação é fundamental para entender como um WAF se comporta no seu ambiente específico. Esse tipo de teste permite verificar, por exemplo, a integração com sistemas de SIEM e o suporte às operações do seu SOC. Diferente das auditorias padronizadas, a autoavaliação replica o tráfego real, as arquiteturas e os fluxos da sua organização, revelando como o WAF se adapta aos processos internos e ao conhecimento técnico da sua equipe.
Ela também ajuda a identificar falhas de visibilidade, detecção e resposta que poderiam passar despercebidas. Ferramentas como o GoTestWAF ajudam a automatizar testes com diferentes tipos de ataques, enquanto o Burp Collaborator permite detectar tentativas mais sutis. Além disso, aplicações vulneráveis intencionalmente, como o OWASP Juice Shop e o DVWA, permitem observar na prática o comportamento do WAF frente a ameaças comuns e avançadas.
Ao adotar essas abordagens, você consegue insights valiosos sobre os pontos fortes e fracos da solução escolhida — e garante uma proteção mais aderente à sua realidade.
Checklist prático para avaliar WAFs com profundidade
Adote uma abordagem estruturada e abrangente:
- Use relatórios de analistas para identificar fornecedores compatíveis com seu perfil de risco e objetivos.
- Valide essas escolhas com auditorias técnicas independentes.
- Analise benchmarks de fornecedores com olhar crítico, atentos às metodologias aplicadas.
- Realize autoavaliações no seu próprio ambiente, com foco em ataques reais e na operação do dia a dia.
Conclusão: além do marketing
Escolher o WAF ideal não é sobre ter a solução com mais funcionalidades chamativas — é garantir que suas aplicações estejam, de fato, protegidas contra ameaças cada vez mais sofisticadas. Ao combinar visões externas com testes internos práticos, você toma decisões baseadas em dados e não em promessas de marketing.
Cibercriminosos estão sempre inovando. Seu processo de avaliação também precisa evoluir. Um WAF bem testado não é apenas uma exigência de compliance — é um escudo ativo que protege o que realmente importa para o seu negócio.