“Lives falsas” são o golpe na moda e já fazem vítimas no Brasil; entenda

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As lives — termo popular para transmissões ao vivo realizadas pela internet — se transformaram em uma verdadeira febre desde que o mundo inteiro se viu obrigado a entrar em quarentena para reduzir a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV2). Impedidos de realizar shows presenciais, artistas de todos os gêneros enxergaram no YouTube uma forma de não apenas de entreter seu público nesse momento desafiador, mas também de angariar doações para instituições e iniciativas humanitárias diversas.

Porém, como tudo o que vira moda na internet, as lives também se transformaram em uma oportunidade para os criminosos cibernéticos — e é daí que surge o obscuro mundo das lives falsas ou “fake lives”, que buscam se aproveitar da inocência de alguns internautas para roubar seu dinheiro. E o pior de tudo é que, embora tal fenômeno seja mais forte nos EUA, já é possível listar diversos incidentes ocorridos no Brasil, sendo difícil estimar os prejuízos causados por tais scams.

Funciona assim: o estelionatário cria um canal no YouTube (ou “sequestra” um canal legítimo que tenha um bom número de seguidores) e inicia uma “transmissão pirata” emulando a live original — o que é possível fazer simultaneamente ou após o evento oficial, usufruindo do vídeo da gravação que fica disponibilizado na plataforma. Porém, o criminoso troca o QR Code originalmente utilizado para receber doações, substituindo-o por um código adulterado que direciona todo o dinheiro para a conta do fraudador.

Mais de R$ 800 mil!

Trata-se de um golpe muito fácil de ser aplicado e que não exige quaisquer conhecimentos em programação — basta dominar alguma ferramenta de transmissão de vídeo (como o OBS Studio, que é gratuito) e ter certa prática com engenharia social.

Recentemente, em uma demonstração de quanto estrago esse tipo de scam pode causar, algum golpista se aproveitou do lançamento da Crew Dragon para emular o canal oficial da SpaceX e subir uma transmissão pirata com vídeos do Elon Musk e outros executivos da companhia comentando sobre os bastidores da missão. Porém, ao mesmo tempo, o meliante adicionou um banner com uma suposta promoção de “doação” anunciando que Musk daria um total de 5 mil bitcoins para seus fãs naquele dia.

Print screen da live falsa de Elon Musk (Reprodução: Live Coins)

Tudo o que o espectador precisava era transferir uma quantidade da criptomoeda para a carteira informada e a SpaceX, em uma campanha para auxiliar os civis durante a pandemia da COVID-19, lhe enviaria esse valor de volta dobrado. Quem enviasse 0,1 BTC ganharia 0,2 BTC; quem enviasse 20 BTC ganharia 40 BTC e assim por diante. Até mesmo um site foi feito para “acompanhar” a campanha maliciosa. No momento em que o YouTube identificou o scam e removeu a transmissão, ela já acumulava 21 mil visualizações.

Ao analisar a carteira em questão usando o serviço Blockchain Explorer, é possível constatar que o endereço recebeu um total de 16,8 BTC originárias de 88 transações — o que equivale a aproximadamente R$ 800 mil na cotação atual da criptomoeda. Isso significa que, mesmo tendo sua campanha interrompida, o criminoso foi capaz de obter bons lucros e enganar uma quantidade razoável de internautas.

No Brasil também tem

Engana-se quem pensa que tal tipo de golpe se limita aos norte-americanos — as lives falsas também andam enganando muita gente aqui no Brasil. Em terras tupiniquins, os scammers estão se aproveitando dos fãs de sertanejo e criando transmissões pirata de artistas famosos, incluindo Gusttavo Lima, Bruno e Marrone e Paulo Lima. Porém, no lugar dos QR Codes originais (que lhe permitem fazer doações para famílias necessitadas através do aplicativo PicPay), são adicionados códigos adulterados para desviar dinheiro.

Dupla Bruno e Marrone foi um dos principais ganchos usados pelos scammers (Reprodução: G1)

“Acho muita sacanagem. Num momento deste, a pessoa está fazendo ‘engenharia para roubar’! Espero que haja uma maneira de inibir essa papagaiada, ficaria muito feliz”, afirmou a cantora Marília Mendonça, entrevistada pelo G1. Embora a gravadora responsável por Marília tenha se recusado a comentar sobre o assunto, a própria já chegou a usar seu perfil oficial no Instagram para ensinar seus seguidores a não cair em tais golpes, orientando-os a sempre checar se a live está sendo transmitida em seu canal legítimo.

Fique atento!

De qualquer forma, é bastante claro que o fenômeno das lives veio para ficar e é provável que esse modelo continue em alta mesmo após o fim da pandemia. E, com isso, os internautas precisam se adaptar para identificar esse novo tipo de golpe e evitar que uma boa ação — doações para quem está realmente precisando — acabe virando uma dor de cabeça. Sempre confira o canal que está realizando a transmissão e procure saber, através de fontes oficiais, se aquele artista ou empresa realmente planejava uma live para aquele dia.

FONTE: THE HACK

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