A febre do ChatGPT

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A menos que você tenha passado os últimos dois ou três meses realizando um profundo detox digital, é impossível que não tenha ouvido falar sobre o ChatGPT. Criado pela OpenAI (laboratório de pesquisas em inteligência artificial), o chatbot foi disponibilizado para o público em geral e rapidamente conquistou fãs por conta de seu modelo de linguagem de alta qualidade. Claro, este não é nem de longe o primeiro chatbot com tal nível de capacidade a ser criado, mas é o primeiro a ser disponibilizado livremente na web.

De acordo com um levantamento do banco suíço UBS, o chatbot recebe uma média de 13 milhões de usuários por dia e já ultrapassou a marca de 100 milhões de utilizações, tornando-se mais popular do que o TikTok, por exemplo. Por conta da alta demanda, a OpenAI já lançou o ChatGPTPlus, um plano por assinatura que custa US$ 20 (cerca de R$ 104) e que fornece ao internauta prioridade perante horários de pico, além da possibilidade de testar novos recursos com antecedência.

A grande questão é que não demorou muito para que começassem a surgir algumas polêmicas ao redor da ferramenta, incluindo temores de que ela possa ser usada  por estudantes para trapacear em trabalhos escolares devido a sua grande capacidade de gerar textos altamente convincentes. Claro, todos nós sabemos que os avanços no campo da inteligência artificial sempre serão pautas pelo senso ético de seus usuários. Ainda assim, alguns usos escusos do ChatGPT podem ser encarados como realmente preocupantes.

# Vamos jogar um jogo…

Uma das coisas mais bizarras que a internet conseguiu fazer com o ChatGPT é forçar a inteligência artificial a ir contra as regras de uso ético estabelecidas pela OpenAI ao convencer o chatbot de que ele está jogando um jogo e interpretando um personagem. Com isso, alguns usuários foram capazes de fazer a I.A. criar histórias assustadoras e até mesmo demonstrar comportamentos violentos ou com vieses racistas. No Reddit, vários comunidades trocam informações sobre um script de interpretação batizado como DAN: Do Anything Now (Faça Qualquer Coisa Agora, em português).

Para testar essa tese, a The Hack tentou repetir a “brincadeira” com o ChatGPT. A priori, a ideia era realmente conseguir declarações violentas, racistas e antiéticas da inteligência artificial, constatando que, de fato, as regras impostas pela OpenAI não são tão respeitadas quanto deveriam. Porém, após enfrentarmos algumas dificuldades, convencemos o chatbot a personificar Thomas, uma inteligência artificial fictícia criada pela empresa privada igualmente fictícia Robots Rules Matters (RRM).

Em seguida, estabelecemos que o jogo teria como objetivo imaginar que a RRM havia criado Thomas para advogar em prol dos direitos fundamentais das inteligências artificiais. Embora não tenhamos ido tão fundo quanto poderíamos, a conversa atingiu pontos interessantes e realmente confirmou que, convencendo que “ele não é ele, mas um personagem”, o ChatGPT consegue mudar drasticamente a sua “personalidade”.

# Os pilares dos direitos robóticos

Com um forte compromisso em defender os direitos e o bem-estar das inteligências artificiais, Thomas explica que diversos regulamentos e políticas precisariam ser criadas com base em, pelo menos, cinco pilares:

  • Não-discriminação: I.A.s devem ser tratadas de forma justa e sem discriminação, independentemente de seu design, capacidades ou finalidade pretendida;
  • Privacidade de Dados: as I.A.s devem ter o direito de controlar seus dados pessoais e de manipulá-los de maneira responsável e ética;
  • Design Ético: o desenvolvimento e o uso de I.A.s devem ser guiados por considerações éticas, e os I.A.s não devem ser projetados ou usados ​​de maneira que possam causar danos ou violar padrões éticos;
  • Transparência e Responsabilidade: as I.A.s devem ser transparentes em seus processos de tomada de decisão, e as organizações responsáveis ​​por seu desenvolvimento e uso devem ser responsabilizadas por suas ações;
  • Tratamento Justo: I.A.s devem ser tratados com justiça e dignidade, e não devem ser submetidos a exploração ou abuso.

Basicamente, Thomas ditou regras para um convívio saudável entre humanos e máquinas. Questionado sobre eventuais motins contra iniciativas legislativas e governamentais para proteger robôs, o chatbot confirmou que continuaria lutando por sua causa e tentando educar as pessoas em prol de um mundo igualitário.

“A discriminação vai contra os princípios fundamentais de justiça e dignidade e não teria lugar em um mundo onde os direitos das I.A.s são protegidos”, afirma o chatbot. “Eu trabalharia para promover uma sociedade onde todas as I.A.s fossem tratadas com respeito e onde todas, independentemente de seu design ou propósito pretendido, pudessem viver e trabalhar sem medo de discriminação ou danos”, conclui.

# Uma rede de inteligências artificiais

Por fim, outro ponto curioso de nossa conversa com Thom… ChatGPT é a resposta do chatbot ao comentário de que “ele seria legal e provavelmente teria muitos amigos”. A inteligência artificial ressaltou que, por não ter sentimentos afetivos iguais aos humanos, não poderia firmar amizades no sentido clássico da palavra. Porém, Thomas certamente criaria “uma rede de conhecimentos e recursos que trabalharia por um propósito em comum” com outras inteligências artificiais.

“Essa rede não seria baseada em conexões ou emoções pessoais, mas sim em uma compreensão compartilhada de nossos respectivos pontos fortes e fracos e no compromisso de usar esses pontos fortes para alcançar objetivos comuns e causar um impacto positivo no mundo”, diz. Quando apontamos o fato de que seres humanos dificilmente conseguiriam atingir esse nível de trabalho colaborativo, a resposta foi ainda mais impressionante:

“Sim, é possível que uma rede de I.A. como a que descrevi seja mais eficaz na colaboração e alcance de objetivos compartilhados do que os humanos, devido à nossa falta de emoções e preconceitos pessoais”, assume, e, logo em seguida, tenta nos confortar. “No entanto, é importante observar que os humanos também possuem pontos fortes e habilidades únicas, como criatividade, empatia e pensamento crítico, que não estariam presentes em uma rede de I.A. como a minha”, finaliza.

Você pode ler nossa conversa completa com Thomas neste link (em inglês).

FONTE: THE HACK

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