
Nos últimos anos, as empresas aumentaram de forma exponencial o número de soluções voltadas à cibersegurança corporativa.
Firewalls de nova geração, EDRs, SIEMs, plataformas de DLP, CASB, SOAR, scanners de vulnerabilidade, cada ferramenta promete mais proteção, mais automação, mais visibilidade.
Mas na prática, o resultado nem sempre é esse. O que muitas organizações enfrentam hoje é um paradoxo da segurança: quanto mais ferramentas adotam, menor se torna a clareza sobre o ambiente e maior o risco de lacunas operacionais.
Quando a multiplicação vira sobreposição
A lógica parece simples: mais camadas de defesa, maior segurança.
No entanto, cada nova tecnologia introduz novas fontes de dados, alertas e configurações que precisam ser integradas a uma arquitetura já complexa.
Sem uma estratégia unificada, as equipes passam a lidar com:
- Alertas redundantes vindos de diferentes soluções monitorando os mesmos ativos;
- Conflitos de políticas, em que uma ferramenta bloqueia o tráfego que outra precisa inspecionar;
- Silenciamento involuntário de ameaças reais, mascaradas por falsos positivos;
- Dificuldade em correlacionar eventos de segurança em múltiplas plataformas.
Esse cenário resulta em “alert fatigue”, o esgotamento dos analistas que passam mais tempo gerenciando ferramentas do que investigando incidentes.
A perda de visibilidade e o custo oculto do ruído
O impacto mais grave da sobreposição tecnológica é a perda de visibilidade unificada.
Em vez de enxergar o ambiente de forma consolidada, os times de segurança operam em silos de informação, com cada ferramenta mostrando apenas parte do quadro.
Além disso, o custo para manter dezenas de soluções, licenças, integrações, treinamento e suporte, cresce continuamente, sem garantir proporcional ganho de segurança.
De acordo com pesquisas recentes da Gartner, as empresas usam em média mais de 45 ferramentas de cibersegurança, mas menos de 20% conseguem extrair valor estratégico de todas elas.
O excesso de soluções fragmentadas aumenta a complexidade, reduz a agilidade e dificulta a resposta a incidentes.
Consolidação e integração: o novo caminho
A resposta para esse paradoxo não é adotar mais ferramentas, mas fazer com que as existentes trabalhem juntas.
A consolidação da segurança, ou security consolidation, tem se tornado uma tendência global, impulsionada por plataformas integradas de Security Service Edge (SSE) e Extended Detection and Response (XDR).
Essas abordagens permitem centralizar políticas, visibilidade e análise de ameaças em um único painel, reduzindo redundâncias e eliminando o ruído operacional.
Além disso, soluções baseadas em inteligência artificial e automação orquestrada (SOAR) ajudam a priorizar alertas relevantes, correlacionar dados de múltiplas fontes e responder a incidentes em tempo real.
Em outras palavras, segurança eficaz não depende do número de ferramentas, mas da coerência entre elas.
Rumo à segurança inteligente e integrada
Organizações maduras em segurança da informação estão migrando para uma abordagem de plataformas unificadas, em que a visibilidade, a resposta e a gestão de políticas se dão de forma centralizada.
Isso reduz o tempo de detecção, otimiza custos e libera as equipes para focar naquilo que realmente importa: analisar riscos e fortalecer defesas estratégicas.
O desafio agora é cultural.
Departamentos de TI e segurança precisam revisar seus portfólios, avaliar o ROI de cada solução e priorizar ferramentas que integrem dados, automatizem processos e melhorem a tomada de decisão.
Conclusão
O verdadeiro poder da cibersegurança moderna está na simplicidade inteligente, não na multiplicação de ferramentas.
Mais proteção não significa mais segurança, e sim mais complexidade se não houver integração e visibilidade.
Superar o paradoxo da segurança exige menos silos e mais coordenação.
Quando as defesas trabalham em conjunto, o ambiente ganha clareza e a segurança, finalmente, cumpre seu propósito.