Cibersegurança e déficit de profissionais impedem migração em massa para nuvem pública

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Porém, opção pelo modelo híbrido (nuvens públicas e privadas) tem sido mais frequente e considerada estratégica pelas organizações, segundo estudo da NTT; 93.7% dos negócios globais veem a nuvem como crítica para satisfazer necessidades imediatas das empresas em meio à incerteza da pandemia

Jackeline Carvalho

Em entrevista exclusiva ao IPNews, Augusto Panachão, diretor de soluções e tecnologia da NTT Ltd no Brasil, explica por que o modelo de nuvem híbrida ganhou projeção ao longo da pandemia e fala sobre as desconfianças e dificuldades das organizações na integração da infraestrutura.

O relatório, que conduziu a pesquisa com 950 tomadores de decisões em 13 países e 5 regiões, destacou o aumento da confiança na tecnologia e identificou:

  • Uma salvação para os negócios.5% concordam que a pandemia forçou seus negócios a contar com a tecnologia mais do que nunca;
  • Os benefícios da nuvem híbrida já estão claros: Com 60% das organizações globalmente já usando, ou testando a nuvem híbrida;
  • Nuvem híbrida é o futuro: O estudo descobriu que mais de 32.7% dos entrevistados planejam implementar uma solução híbrida entre 12 a 24 meses.

Abaixo, a íntegra da entrevista.

O relatório de nuvem híbrida de 2021 identificou que 100% das empresas veem o modelo de cloud híbrida como muito crítico para os negócios. Qual é a diferença em relação às versões anteriores do estudo?

Augusto Panachão: A gente viu que de um ano para o outro o interesse por tecnologias de nuvem híbrida, ou seja, a intenção de fazer projetos de nuvem híbrida mais que dobrou. E isso está muito relacionado aos desafios impostos pela pandemia. Com os funcionários trabalhando remotamente, fora do escritório e de maneira descentralizada, surgem vários aspectos e desafios que as empresas perceberam que podem ser melhor tratados com a implementação de nuvem híbrida.

Há empresas do Brasil inseridas neste estudo?

AP: Há empresas da América Latina. São 13 países envolvidos e 950 respondentes. Comparando as regiões, as dores são bem parecidas. O novo coronavírus é uma dor global e a nuvem híbrida é algo que faz sentido em qualquer canto do mundo.

O relatório faz uma correlação entre a nuvem híbrida e a agilidade de negócio. O que isto significa?

AP: Resumidamente, a gente percebeu que principalmente os gestores de TI identificaram que podem contar com as funcionalidades oferecidas pelos grandes provedores de nuvem pública. Por exemplo, as funcionalidades de low code e no code, que nos permitem contar com desenvolvedores de software que não são formados em TI. Podemos contar com ferramentas para criar aplicações sem que tenhamos conhecimento em códigos de linguagem. Onde você vai encontrar plataformas de low code e no code prontinhas para usar? Na nuvem pública. Isto aparece bastante na pesquisa. Essa questão da agilidade tem sido um importante fator decisão de adoção da nuvem. Outra questão importante é o crescimento do trabalho remoto ou teletrabalho imposto, que foi potenciado pela pandemia do novo coronavírus. Vemos que de uma hora para outra todo mundo começou a trabalhar fora do escritório. As estruturas de TI estavam muito preparadas para atender ao usuário dentro do escritório, no mesmo local físico. Então, sob o ponto de vista de rede, temos fluxos completamente diferentes e muito mais latência para chegar nas suas aplicações corporativas que estão no data center próprio. Em termos de segurança, você estava preparado para proteger o usuário que estava no escritório, mas quando estão todos fora, existe uma “corrida armamentista” para controlar a segurança para estes usuários. Isso parece fácil, mas muda bastante a performance de uso e a qualidade. Em resumo, os profissionais de TI perceberam que a arquitetura híbrida, onde você pode ter os dados dentro de casa mas bem conectados e sincronizados com a nuvem pública, geram várias vantagens, e a pesquisa aponta três pontos principais: continuidade de negócio, resiliência e agilidade.

Você mencionou uma questão que eu acho importante, que é a automação do desenvolvimento de sistemas. Isto vem de encontro à falta global de mão de obra especializada, e que o Brasil tem que corrigir e não consegue?

AP: Tem um momento da pesquisa que a gente aponta razões para pessoas que foram para a nuvem pública terem voltado, e uma delas é a falta de conhecimento das funcionalidades da nuvem pública. Então, sim, este é um desafio, a falta de profissionais que conheçam funcionalidades de nuvem pública, que são diferentes do que acontece na nuvem privada. A pesquisa destaca que uma das principais razões que leva as empresas para a nuvem é a falta de profissionais. Nós mesmos na NTT, que temos forte DNA em nuvem híbrida, estamos numa busca grande por profissionais que entendam de nuvem pública. Na pesquisa, vemos que mais de 80% das empresas têm intenção de fazer projetos de nuvem pública, e estas organizações estão procurando profissionais que entendam disso. O papel de system integrator aparece bastante na pesquisa justamente por causa desta intenção de trabalhar com parceiros para fazer funções de nuvem pública para suprir a falta de profissionais. Dois serviços mostram a alta da demanda pelos systems integrators. O primeiro é o de desenhar uma arquitetura híbrida, ou seja, “como eu faço para a minha empresa, que quer estar mais na nuvem pública, manter a performance de rede, manter os controles de segurança e, da mesma forma, usar da melhor forma possível a nuvem pública”. A segunda é para mexer no código das aplicações, fazer o que a gente chama de refactoring, ou seja, reescrever ou rearquitetar a aplicação em si para usar melhor uma nuvem pública. Então vou dar um exemplo bem claro, quem trabalha dentro de casa nunca se preocupou com serverless, ou estava indo para um caminho de contêineres. Se você faz isso na nuvem pública, você tem um ganho financeiro muito grande. Então é importantíssimo para alguém que vai migrar a aplicação para a nuvem pública que conheça esses conceitos. Vimos na pesquisa que praticamente 17% dos usuários que foram para a nuvem pública voltaram para a nuvem, privada porque nuvem pública ficou mais cara. Isso acontece porque, ao migrar para uma nuvem pública, você precisa saber usar melhor os seus controles, algo que nos procuram, porque se você migrar sem dominar os controles, fica mais caro.

Um dos itens que me chamaram a atenção na pesquisa foi a adoção de nuvem híbrida em busca de redução de custos, e agora você comentou que nem sempre isso é verdadeiro.

AP: Nem sempre isso é verdadeiro. A pesquisa mostra várias razões para migração de nuvem, inclusive redução de custo, que é uma razão importantíssima, mas não é garantida na nuvem pública. Se você fizer uma conta de total cost para a sua nuvem privada, vai entrar o custo de energia elétrica, o custo de hack, cabeamento, servidor, armazenamento e profissionais. São vários custos envolvidos que, quando comparados com a nuvem pública, fazendo uma migração básica, normalmente resulta em uma infraestrutura mais cara. Uma das razões para migrar para a nuvem pública é a redução de custos. Da mesma forma, a razão para o retorno é o aumento dos gastos devido ao uso inadequado dos recursos.

O termo automação tem sido frequente em várias áreas da tecnologia, e pelo o que você está dizendo, mesmo com automação, as empresas não vão conseguir fazer a migração e a gestão dos dados na nuvem híbrida sozinhas. É possível a uma organização ser autônoma nesta área de nuvem?

AP: Há dois lados. Uma empresa pode ser autônoma, mas, para isto, precisa de gente especializada no assunto. Hoje gerenciamos a infraestrutura de dezenas de clientes que não conseguem contar com profissionais – uma das barreiras para a contratação de profissionais é o limite de orçamento. Por outro lado, há empresas que não precisam de gestão, porque têm gente especializada dentro de casa. Nuvem pública vai ser a mesma coisa. Exige um conhecimento específico, as funcionalidades são específicas. O profissional que conhece o banco de dados em nuvem privada não necessariamente conhece banco de dados em nuvem pública, e você, muitas vezes, não vai conseguir contar com estes profissionais ou não vai conseguir desenvolvê-los. Toda esta tecnologia mais nova tem uma demanda de mercado e um déficit de profissionais. Destaco que quanto mais você conhece as ferramentas da nuvem pública, mais será eficiente e ágil. Se você não trabalha bem com as aplicações, você deixa muito recurso na mesa, deixa de usar vários dos benefícios, entre eles a automação. O profissional que trabalha com nuvem pública, opera uma infraestrutura baseada em scripts, conta com um robozinho cria a infraestrutura – rede, armazenamento, ferramentas de computação – e já sobe o sistema operacional de maneira automatizada.

Na linha dos motivadores de migração para a nuvem híbrida está a segurança da informação. Eu queria que você comentasse o nível de segurança que as empresas atingem quando estão em nuvem pública, privada ou em ambiente híbrido.

AP: Asa pesquisa mostra coisas interessantes, até surpreendentes para mim. Nesse histórico de mais de uma década de realidade da nuvem pública, segurança, no início, era a grande razão para não se migrar, pela falta de confiança nos controles de segurança, o que é super importante. Os provedores de nuvem provaram de diversas formas que têm todos os tipos de controle de segurança imagináveis e que, muitas vezes, a segurança na nuvem pública é maior do que na nuvem privada. Lembrando, de novo, que a nuvem pública já tem, por natureza, vários controles que você tem que investir na nuvem privada, e mesmo assim a razão que mais apareceu na pesquisa como impasse para as empresas migrarem para a nuvem pública foi a segurança. Isto vinha diminuindo ao longo do tempo, mas acho que está muito relacionado ao cyber security deste ano que foi muito crítica. Quase 62% das pessoas disseram que segurança e compliance são os fatores críticos que mais dificultam a migração para a nuvem pública. Dentro deste guarda-chuva de segurança, a principal reclamação sobre a nuvem pública foi a falta de visibilidade e controle, que as ferramentas para controle de segurança são piores do que as da nuvem privada e a menor visibilidade da informação de segurança. De fato, se a gente olhar a situação da tecnologia atual, os controles que as próprias nuvens implementaram ainda estão um pouco aquém de funcionalidades se comparado às infraestruturas tradicionais. Os grandes fabricantes de segurança vêm há muitos anos desenvolvendo controles de segurança. O que temos feito para os nossos clientes é justamente levar modelos virtuais de controle para dentro das nuvens públicas, o que talvez seja o melhor modelo hoje para se diminuir a desconfiança em relação à segurança.

Então a segurança em nuvem pública ainda não é uma questão resolvida?

AP: É uma questão que está cada vez mais bem resolvida. Eu não esperava que o número de respondentes apontando segurança como razão crítica fosse tão grande. Mas os dados mostram que a gente precisa continuar olhando para isto. Em conversas com os clientes, esta questão é menos frequente, mas ainda há esta preocupação. Outras questões que apareceram e que são interessantes é o fato de que o mal uso da infraestrutura de nuvem fez com que as aplicações tivessem algumas paradas, o que levou a um retrocesso. Ou seja, a falta de conhecimento da nuvem pública faz com que você acabe causando mais paradas na aplicação do que você tinha na nuvem privada, o que não deveria acontecer. As estatísticas dizem que a nuvem pública falha muito menos que a nuvem privada; e que os custos ficaram maiores do que estavam esperando quando migraram para a nuvem pública.

Estes resultados do relatório alteram de alguma forma a estratégia da NTT?

AP: Muito pelo contrário. Para este ano e para o ano que vem a gente vem apostando muito em nuvem híbrida. O que a gente vem dizendo é que a maioria das empresas vão precisar do cenário híbrido. Vai ter um tempo de migração, mas as nuvens públicas serão cada vez mais utilizadas do que as privadas. A gente vai ajudar os nossos clientes fazendo arquitetura híbrida, fazendo um planejamento de conectividade apropriado e depois planejando os controles de segurança apropriados. O passo que vem depois é a arquitetura de dados. Quando você quer migrar para a nuvem pública, precisa planejar direitinho onde os dados estão hospedados e quais aplicações vão consumir na nuvem pública. Arquiteturas de rede, de segurança e de dados são assuntos que a NTT já conhece.

FONTE: IP NEWS

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