Pela 1ª vez, SP tem monitoramento facial em tempo real no Carnaval

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Desde janeiro, a Polícia Civil de São Paulo usa a ferramentas de reconhecimento facial para resolver crimes. Agora, decidiu dar passos maiores: vai monitorar multidões em tempo real para tentar achar foragidos da Justiça e de pessoas desaparecidas. A ação será feita durante o Carnaval em lugares da capital paulista onde há concentração de foliões.

Inicialmente, os sistemas de detecção de rostos instalados no Laboratório Biométrico do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), ligado ao Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol), não permitiam fazer vigilância ao vivo, mas uma parceria com a Prefeitura de São Paulo, selada em reunião nesta segunda-feira (17), deu mais poder à polícia ao liberar o acesso a 20 câmeras que fazem parte do projeto City Cameras e outros seis equipamentos ligados ao sistema de reconhecimento facial da Microsoft, que participará de um teste.

O uso de drones, alardeado pelo governador João Doria na abertura do laboratório biométrico, não foi incluído no sistema.

Cruzamento de dados da segurança pública

O sistema de biometria do governo do Estado não deve ser confundido com o do Metrô de SP, que está sendo questionado na Justiça para justificar a adoção de uma ferramenta de monitoramento facial. Ele também é diferente do que ocorre em Salvador, Rio de Janeiro e Campinas, porque funcionava, na maior parte do tempo, apenas com imagens estáticas.

Ou seja, se a polícia quiser identificar suspeitos de crimes flagrados por uma câmera, até mesmo a de um celular, não basta mandar o vídeo ao IIRGD. Ela precisa enviar uma captura da tela (print) de uma cena em que o suspeito aparece, o que impede que o monitoramento em tempo real aconteça.

O reconhecimento facial está instalado no IIRGD, órgão que mantém as bases de dados da polícia, tanto para legitimação quanto para identificação de alguém, e que conta com as informações pessoais agrupadas em torno de 32 milhões de RGs emitidos no Estado —isso inclui dados biométricos das impressões digitais e das faces, além de dados biográficos, como nome do pai e da mãe.

Durante o Carnaval, a ideia não é usar esse volume gigante de informações, diz Mitiaki Yamamoto, diretor do IIRGD, mas a base de foragidos da Justiça e a de desaparecidos. Os equipamentos serão abastecidos com uma base de dados faciais de 30 mil fugitivos e 10 mil desaparecidos. A partir daí, as câmeras inteligentes passarão a procurar por pessoas que tenham traços faciais parecidos com os integrantes dessa base.

A gente nem vai ver quem está pulando no Carnaval. A gente só vai ver se, no meio de quem está pulando Carnaval, existe um procurado ou um desaparecido

Mitiaki Yamamoto, diretor do IIRGD

Os dados consideram os indivíduos nessa situação a partir de 2015, um ano depois de os prontuários do IIRGD começarem a ser digitalizados. Os dados pessoais dessas pessoas, diz Yamamoto, estarão em HDs mantidos em ambiente tecnológico da Polícia Civil e serão manuseados apenas pelos agentes da Dipol.

Caça ao rosto, mesmo fantasiado

Durante a ação, monitores serão montados na sede da Dipol para receber as imagens das câmeras da prefeitura. Caso um suspeito seja identificado pelo sistema, uma sinalização aparecerá na tela. A partir daí, agentes em campo serão destacados para abordar a pessoa.

Esses policiais terão que coletar as impressões digitais do suspeito e enviá-las ao IIRGD, que checará se batem com as do procurado indicado. Somente se as impressões digitais indicarem que se trata mesmo de um foragido que ele é levado à delegacia.

Antes de ocorrer a checagem das digitais, não haverá prisão, conta Yamamoto, porque o “match” facial não é prova de que o indicado é, de fato, um foragido da Justiça. Segundo ele, o sistema apenas indica pessoas com alta possibilidade de ser o procurado.

No reconhecimento facial estático, por exemplo, ele elenca até dez pessoas com características faciais similares às daquela identificada no vídeo. “A gente não está falando, ‘olha, esse aqui que o sistema apontou é o culpado’, mas, sim, ‘veja essas dez possibilidades'”, diz o diretor.

Ou seja, não está descartado o surgimento de falsos positivos.

Acontece que as câmeras não são abastecidas com fotos de pessoas para, a partir daí, buscar rostos parecidos. Elas recebem um código. Esse código funciona como um “RG facial”, emitido pelo sistema a partir da relação entre os vários elementos presentes no rosto (as distâncias entre nariz e boca, entre os olhos, entre as orelhas etc).

Enquanto mira a multidão, as câmeras vão efetuando cálculos para definir o “RG facial” dos foliões. Quando detecta um rosto que possui “RG facial” próximo a um dos códigos presente no banco de dados, há uma sinalização.

Como o sistema busca mesmo essas relações entre elementos do rosto, uma fantasia que tampe parcialmente a face não evitará foragidos de serem identificados. “Se tiver um cabelo pintado, sobrancelha desenhada, barba ou bigode, isso não vai interferir em nada”, diz Yamamoto.

Monitoramento de vida curta

A estratégia feita para o Carnaval, diz Yamamoto, é pontual e criada apenas para o evento. Isso quer dizer que o monitoramento das vias que contam com câmeras de reconhecimento facial ao vivo não será prolongado.

“Por enquanto a gente não tem interesse. O instituto de identificação tem que prestar um apoio para investigação e não há necessidade de fazer um reconhecimento dinâmico, porque a gente não está monitorando. O nosso serviço não é esse”, diz Yamamoto.

Com valor não revelado pelo governo do Estado, o contrato assinado com a Thales Gemalto tem duração de quatro anos.

É possível que esse tipo de reconhecimento facial em tempo real volte a ser feito em outros eventos, como jogos de futebol. Nesse caso, as câmeras seriam alimentadas com uma base de dados formada por torcedores violentos com restrição de acesso a estádios decretada pela Justiça, por exemplo.

FONTE: UOL

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